Quatro Fábulas Para Entender Como Convivemos Com Pandemia
Selecionei entre várias fábulas (perspetivas) quatro nas quais a situação que vivemos com o Covid-19, se encaixam, e talvez possam também explicar o nosso comportamento social atual.
Desde o início do aparecimento das várias estirpes de corona vírus, até à sua disseminação como pandemia, que viemos a receber informações as mais diversas, tanto ao aparecimento, como às causas e sua difusão.
Estas notícias tanto se referiam ao próprio agente infecioso, uma nova estirpe de vírus, como apresentavam informações mais diversas, tanto quanto à sua origem, como à sua efetividade ou capacidade infeciosa.
Ao longo deste intervalo pandémico temos alterado profundamente a nossa forma de gerir o tempo. Tanto para residentes, como para os mais variados setores de atividades.
No início, dentro de uma manifesta falta de informações condignas, tanto se podia entender de mais uma situação passageira, equivalente a um surto de gripe sazonal, como de uma situação catastrófica que nos iria prejudicar a nível mundial.
Infelizmente venceu a segunda, e acabamos por nos confrontar com uma situação pandémica que abrange todos os continentes. Certamente que a movimentação de pessoas em todos os continentes, facilitou muito essa disseminação.
A forma de conter essa partilha de informação sobre a infeção, teve muitas formas de apresentação, a começar pelo seu país de origem, a China, originando uma preferência específica na forma de atuação, isolamento das pessoas.
Os vírus, desde sempre foram considerados como elementos extremamente perigosos, pois estando nos limiares do conceito de célula viva, obrigam a um olhar muito particular. Não podem ser destruídos como os outros microrganismos celulares mais desenvolvidos, recorrendo a antibióticos como no caso das bactérias. Embora se reproduzam (ou se repliquem), só conseguem duplicar o seu elemento genético, com a presença de um hospedeiro. Têm de penetrar na célula e apropriar-se de parte do material genético desta e a partir de aí conquistar todo o espaço com destruição do hóspede.
A questão que se põe agora tem a ver com a forma como nós, humanos, vamos lidar com essa invasão e qual a melhor forma de defesa e ainda como é que ela nos é apresentada e as formas coercivas que lhe estão ligadas.
As autoridades, encaminhadas pelas informações sanitárias, impõem restrições de vário tipo que vão impedir o contato físico e limitar os movimentos das populações. Essas proibições são acatadas pelas populações geralmente com uma certa reserva, poi afinal elas baseiam-se em restrições de liberdade.
Liberdade de movimentação, de convívio, de partilha de vida coletiva. Passado algum tempo essas mesmas restrições tornam-se como que intoleráveis e podem ser interpretadas como medidas enquadradas num processo de tortura. E o processo de tortura tem vários matizes, tanto podem ser externas como ser mais refinadas e partirem das próprias pessoas reféns dos seus próprios medos. É nessa perspetiva que iremos avançar com os nossos propósitos referindo-nos às fábulas e afins.
A primeira aborda o consentimento forçado (perda de liberdade consentida).
A) Como domesticar porcos selvagens? Passos a seguir:
1-Procurar um terreno onde circulam porcos selvagens.
2-Lançar milho num local de fácil acesso aos porcos selvagens.
3- Os porcos selvagens começam naturalmente a comer o milho que lhes é oferecido
4- Progressivamente os porcos selvagens habituam-se a ter diariamente milho disponível num mesmo local
5- Habituados os porcos voltam ao local onde existia o milho, mesmo sem encontrarem nada
6- Volta-se a fornecer milho no mesmo local, nas mesmas condições e os animais deixam de procurar alimentos pois esperam encontrar milho no local
7- Progressivamente vai-se montando uma cerca à volta do local da refeição de milho
8- Os porcos selvagens já estão dependentes do milho oferecido e quando a cerca é fechada, mesmo assustados de início, rapidamente se acalmam se tiverem a ração de milho.
9- Os porcos já habituados a serem alimentados não rejeitam a aproximação do homem que lhe fornece a alimentação.
10 – Os porcos perderam a liberdade e estão totalmente dependentes da alimentação fornecida e ficam ansiosos quando o milho não aparece.
11- Os porcos estão totalmente submissos e prontos para seguirem para o matadouro.
A segunda aborda a acomodação e confinamento assumido.
B) Como obter a acomodação e o confinamento assumido dos porcos espinhos.
– Os porcos espinhos sabem que não podem aproximarem-se uns dos outros em demasia pois vão picar-se quando se tocam.
– Faz frio e os animais sabem que têm de estar juntos para se poderem defender do frio, mas não se podem tocar por causa dos picos.
-Progressivamente os porcos espinhos vão-se aproximando até encontrarem uma distância que lhes permita terem algum calor.
Evitam o contato direto para não se picarem, mas estão suficientemente próximos para se protegerem.
Foi conseguido um confinamento assumido, adequado à sua segurança e conforto com perda de liberdade de movimentos.
A terceira, recorre à habituação a situações extremas.
C) A rã e a panela de água aquecida.
– Uma rã e a colocada dentro de panela com água a uma temperatura normal, ela adapta-se e está à vontade na panela.
– Se a água for aquecida, de momento, rã aprecia aquele aumento de temperatura e sente-se bem.
– À medida que a temperatura aumenta, a rã vai sentindo cada vez menos conforto, mas ainda aguenta a temperatura até ao momento em que acaba por ficar cozida e morre.
– Se a rã tivesse tido contato imediato com água quente, teria dado um salto e fugido da panela, mas dadas as circunstâncias narradas ela foi-se habituando a um bem-estar fornecido que acabou por matá-la.
Esta tática é aplicada nas situações em que se vão fornecendo aos torturados, comodidades até eles aceitarem a tortura de forma natural, levando-os à perda da liberdade ou mesmo da própria vida.
A quarta abordagem, reporta-se ao comportamento inconsciente em respeitar uma forma de agir imposta pela própria coletividade
D) Fábula do macaco : aceitação e perpetuação de ditames de entidades superiores. Trata-se de uma fábula que descreve uma experiência levada a cabo com um grupo de macacos. Ela exprime a transmissão e a perpetuação de crenças coletivas no seio de uma população progressivamente renovada sendo mesmo que a causa primária dessas crenças se tenha extinguido e não haja nenhum testemunho dessa causa.
Para dar corpo a esta experiência, cerca de 20 macacos são isolados num quarto onde existe uma escada que no seu cimo contém um cacho de bananas. Os macacos são logo atraídos para as bananas.
Assim que um macaco começa a subir na escada para aceder às bananas, os macacos recebem automaticamente um duche de água gelada. Rapidamente os macacos aprendem a não subir na escada se não quiserem levar com um banho de água gelada.
Subitamente o duche é desativado, mas os macacos conservam a experiência adquirida e não tentam aproximar-se da escada.
A certa altura um dos macacos do grupo é retirado e substituído por um novo macaco desconhecedor do banho de água gelada.
Mas assim que o novo macaco se aproxima da escada para chegar às bananas é agredido violentamente pelos restantes macacos conhecedores do duche de água gelada.
Quando um segundo macaco é substituído por um novo elemento, a cena repete- se e todos os macacos se opõem com agressividade à subida da escada, mesmo aquele que não tivera contato com o duche gelado.
A cena de substituição dos elementos do grupo repete-se até se terem substituídos todos os macacos. Nenhum dos macacos agora colocados no quarto teve contato com a água gelada. No entanto, se algum dos macacos tentar subir a escada é impedido pelos restantes macacos embora nenhum dos macacos presentes tenha tido, alguma vez, contato com a água gelada.
Esta história é utilizada para simbolizar uma prática que mostra como um grupo de pessoas (muitas…) pode ser levada a ter um comportamento de que desconhece as causas ou as consequências. São devidas a ditames impostos, que são seguidos de forma cega e sem contestação para o bem da coletividade e a própria coletividade defende a sua aplicação. Quem não seguir aqueles ditames é confrontado com o mal-estar da sociedade.
Adicionada às anteriores fábulas, verificamos como a população acaba por ter comportamentos que pensa serem imperiosos para a sua defesa e bem-estar, embora não tenha certezas científicas de que essas mesmas práticas são as mais adequadas para acudir a dado problema ou à situação que atinge toda uma população, como é o caso de uma pandemia. Mas mais curioso é verificar como certas pessoas se tornam ainda mais cumpridoras dos pressupostos do que aquilo que foi preconizado ou se tornam defensores agressivos do cumprimento dessas mesmas regras reprimindo qualquer desvio ou contrariedade. (bibliografia. G.R.Stephenson 1967).
E) Esta última abordagem que aqui apresentamos não recorre a animais para demonstrar o seu desenvolvimento, mas recorre a uma aplicação direta no homem no sentido de obter os resultados esperados de persuasão.
Esquema ou método definido como o Método D, D, D. (Debility- Dépendence- Dread)
Existem várias abordagens para contextualizar este método de atuar psicologicamente numa ou num conjunto de pessoas, recorrendo à debilidade, dependência e catástrofe. Este sistema foi evidenciado e desenvolvido por um cientista americano nos anos 50 do século passado, depois foi continuado pelos chineses e adaptado mundialmente. Pode ser classificado em várias categorias, das quais podemos destacar a financeira, a cultural, a política, a sociológica e a geográfica. Cada uma delas vai ter um efeito de dependência resultando uma imposição coletiva com limitação da liberdade. O maior objetivo do D, D, D é por meio da persuasão, empregando um amplo processo de lavagem cerebral, tornar a vítima dependente do seu torturador. O Processo consiste em incutir à vítima um medo constante e fazer acreditar que está mais segura sob a custódia do torturador que estando em liberdade.
Jornal A Voz de Paço de Arcos | Nº. 36 Outubro 2021