A Importância de sair da Zona de Conforto
“Quando se fecha uma porta, geralmente abre-se uma janela.”
Nesta derradeira semana assisti por duas vezes à situação de que quando há um imprevisto e as coisas não saem como nós desejaríamos, isso pode mais tarde tornar-se em algo positivo e uma oportunidade para prosperar, para arranjar um novo emprego, para encontrar a nossa alma gémea, para explorar novas possibilidades e sairmos mais favorecidos com o novo desenrolar dos acontecimentos.
Hoje trago uma história popular que mostra exatamente isso:
“Um mestre e o seu discípulo caminhavam há vários dias em peregrinação e procuravam um lugar para repousar durante a noite. Avistaram um casebre no alto de uma colina e resolveram pedir abrigo. Ao chegarem ao casebre, foram recebidos pelo dono, um senhor de aparência pobre e cansado. Ele convidou-os para entrar e apresentou-os à sua esposa e aos seus três filhos também eles com roupas velhas e pouco sorridentes.
Durante o jantar, o discípulo percebeu que a comida era escassa e atendia somente os quatro membros da família, mas eles mesmo assim partilharam-na. Olhando para aqueles rostos tristes e subnutridos, perguntou ao dono como é que eles se sustentavam.
O senhor respondeu:
– Está vendo aquela vaca lá fora? Dela tiramos o leite que consumimos e fazemos queijo. O pouco de leite que nos sobra, trocamos por outras mercadorias na cidade. Ela é a nossa fonte de renda e de vida. Conseguimos viver com o que ela nos fornece.
O discípulo olhou para o mestre que jantava de cabeça baixa e terminou de jantar em silêncio.
Pela manhã, o mestre e o seu discípulo levantaram-se antes que a família acordasse e preparavam-se para se ir embora quando o discípulo perguntou:
– Mestre, como podemos ajudar esta família a sair desta situação de pobreza?
– Quer ajudá-los? – disse o Mestre. – Pegue a vaca deles e empurre-a do precipício.
O discípulo espantado com a resposta disse:
– Mas mestre, a vaca é a única fonte de renda da família. se eu fizer isso eles ficarão ainda mais pobres e poderão até morrer à fome!
O mestre olhou o discípulo nos olhos e calmamente repetiu:
– Se quiser ajudá-los, pegue a vaca e empurre-a para o precipício.
O discípulo indignado seguiu as orientações do mestre, jogou a vaca pelo precipício e a matou.
Alguns anos mais tarde, o discípulo ainda sentia remorsos pelo que havia feito. Decidiu abandonar o seu mestre e certo dia foi visitar aquela família. Voltando à região, avistou de longe a colina onde ficava o casebre, e olhou surpreendido para uma bela casa que estava em seu lugar.
– De certo, após a morte da vaca, ficaram tão pobres e desesperados que tiveram que vender a propriedade para alguém mais rico. – pensou o discípulo.
Aproximou-se da casa e, ao entrar pelo portão, viu um criado e perguntou-lhe:
– Você sabe para onde foi a família que vivia no casebre que havia aqui antes?
– Sim, claro! Eles ainda moram aqui, estão ali no jardim. – disse o criado, apontando para a frente da casa.
O discípulo caminhou na direção do jardim e pôde ver um senhor altivo, bem vestido, brincando com três jovens alegres e bem desenvolvidos e uma linda mulher. Dava para perceber que era a mesma família, mas estavam bem diferentes das pessoas que conhecera anos antes.
Quando o dono da casa avistou o discípulo, reconheceu-o de imediato e o convidou para entrar em sua casa. O discípulo quis saber como tudo havia mudado tanto desde a última vez que os vira.
O senhor então disse:
– Depois daquela noite em que vocês estiveram aqui, a nossa vaquinha caiu no precipício e morreu. Como não tínhamos mais a nossa fonte de renda e sustento, fomos obrigados a procurar outras formas de sobreviver. Não foi fácil no início, mas com o tempo aprendemos e desenvolvemos habilidades que nem sabíamos que tínhamos e com isso, descobrimos outras formas de nos sustentar.
Perder a nossa vaquinha foi horrível, mas enfim, há males que vêm para bem. – disse o dono sorrindo.
Envergonhado por não ter confiado na palavra do seu ex-mestre, só então o discípulo entendeu a profundidade daquilo que ele o havia orientado a fazer.”
Mais uma vez dá para perceber que a vida nem sempre acontece como nós a imaginamos e que bom que assim é.
Principalmente nestas ocasiões em que saímos da nossa zona de conforto, podemos descobrir que temos muita coisa a aprender, que temos forças e capacidades escondidas que podem mudar a nossa vida para melhor. Só precisamos é não nos desesperar e saber trabalhar a paciência, quando as coisas não correm como nós esperávamos.
Quando se fecha uma porta, geralmente abre-se uma janela, diz a sabedoria popular. A vida espera de nós coragem e resiliência. Às vezes precisamos perder para ganhar mais adiante.
Bruno Gonçalves (Naturopata e Acupuntor)