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O Dia da Espiga

A 26 deste mês de Maio de 2022 assinala-se o Dia da Espiga, também conhecido como Quinta-Feira da Ascensão.

A Origem da Tradição, a história e simbolismo da data

Os rituais pagãos, com especial enfoque nas culturas célticas e romanas, de celebração das primeiras colheitas, e pedido pela qualidade e quantidade destas, remontam à antiguidade.

Por ter uma ligação com a Natureza, pensa-se que este costume está relacionado com antigas tradições pagãs associadas às festas da deusa Flora que costumavam acontecer pelo meio da Primavera, mais ou menos no atual Maio, e sempre tiveram grande implementação Popular.

Com a chegada do Cristianismo, e  tendo em conta as datas das celebrações da Páscoa, acabou por, em Portugal, acabar por se colar à Festa da Ascensão, celebrada 39 dias depois da Páscoa. Até porque era um feriado nacional oficial.

Outros países onde a Quinta-feira da Ascensão se mantém como feriado nacional são, a Alemanha, a Áustria, a Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, a França, o Luxemburgo, os Países Baixos, a Noruega, a Suécia e a Suíça.

Em matéria de feriados móveis há pouco para saber: 40 dias antes da Páscoa é o Carnaval e 40 dias depois a Quinta-feira da Ascensão. Que muito antes de o ser, era, no Centro e Sul, uma enraizada celebração pagã da fertilidade da Terra e das colheitas generosas.

Neste dia celebra-se a Consagração da Primavera e de acordo com a tradição católica, a subida de Jesus Cristo aos céus 40 dias após a ressurreição (Páscoa).

Uma tradição tão profunda que até há bem pouco tempo este era o DIA! ou “o dia mais santo do ano“, em que não se devia sequer trabalhar. Era também chamado o dia da hora porque havia uma hora, o meio-dia, em que tudo parava, “as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas não se cruzam“. Era nessa hora, pelo meio-dia, que se deviam colher as plantas para fazer o ramo da espiga, do qual, em dias de trovoadas se queimava um pouco no fogo da lareira para afastar os raios. Incluía flores silvestres como papoilas ou malmequeres, raminhos de oliveira, de alecrim e de videira e também se colhiam as ervas medicinais.

A atual celebração do Dia da Espiga ou Quinta-feira da Espiga ocorre no dia da Quinta-feira da Ascensão, usualmente com um passeio matinal, em que se colhem espigas de vários cereais, flores campestres e raminhos de oliveira para formar um ramo. Segundo a tradição, o ramo deve ser colocado por detrás da porta de entrada, e só deve ser substituído por um novo no dia da espiga do ano seguinte.

Ainda se lembra como se faz o ramo da Espiga?

Antigamente, nesta data as pessoas iam pelos prados, hoje cada vez mais escassos junto a vilas e cidades, em busca dos vários constituintes do ramo da espiga: as espigas (sempre em número ímpar), a papoila, o malmequer, a oliveira, o alecrim e a videira. Um ramo a preceito tem, cada uma com o seu significado de forma diversificada e equilibrada, que a abundância nunca foi nem nunca será feita de monocultura intensiva.

Cada um com o seu significado:

As espigas devem ser sempre em número ímpar, e são a parte mais importante do ramo, podendo ser de trigo, centeio, aveia, ou qualquer outro cereal. Representam o pão, como a base do sustento da família e a fecundidade.

A papoila com a sua cor vibrante significa neste ramo o Amor e a Vida. Sendo a parte mais garrida do ramo acaba por ser também aquele que mais se decai com o ano a passar, ao escurecer e secar.

O malmequer simboliza no ramo a riqueza e os bens terrenos. O branco representa a prata e ao mesmo tempo o amarelo figura o ouro.

A oliveira acaba por ter um duplo significado no ramo da espiga, em parte representa a Paz, e o desejo pela mesma. Sendo que é um dos símbolos da Paz desde a antiguidade. Ao mesmo tempo é símbolo da Luz, sendo que esta luz pode ser interpretada no sentido divino da mesma, a sabedoria divina.

O alecrim com o seu cheiro forte e duradouro, e sendo uma planta que resiste a quase tudo, mostra a força e a resistência. Ao contrário da Papoila avançando no ano o seu cheiro vai-se aguentando, e a sua presença torna-se cada vez mais notada no ramo.

Por último, mas não menos importante, temos a videira associada à alegria, também ligada ao vinho que na cultura portuguesa é tão importante e que predominava neste concelho de Oeiras.

Estas são as plantas principais do Ramo da Espiga, sendo que tradicionalmente qualquer outra planta que surja durante a caminhada do Dia da Espiga pode ser adicionada para embelezar. No entanto reza a tradição que não falte nenhuma das acima, para não faltar o que ela representa.

“Quem tem trigo de Ascensão, todo ano terá pão”

Ditam os antigos costumes que o ramo deve ser colocado atrás da porta de entrada de casa e apenas deve ser substituído no ano seguinte, por um ramo novo, como símbolo de sorte e prosperidade do lar.

Porém, nos dias de hoje celebrar o dia da Espiga terá pouca serventia se for apenas para cumprir a tradição e nos lembrarmos como era Oeiras até aos anos 80. Por muito bonito que seja o ramo, mais importante que isso, do que celebrar a Espiga, o Dia do fascínio das plantas (18 de Maio) ou mesmo o Dia das abelhas que se celebra a dia 20 de Maio (que na prática são dias que também de forma também habilidoso foram instituídos, a nível internacional, simplificando o ancestral dia da Espiga que já celebrava tudo isso!), é importante termos presente que a terra que habitamos é também em boa parte resultado da nossa ação e vontade coletiva.

Fará sentido celebrar o dia da Espiga se todo o resto se Oeiras se transformar num território totalmente urbano? Se deixarem de existir searas e bermas floridas? Não existem dúvidas que essa não era a fertilidade desejada pelos nossos antepassados! A “fertilidade” nauseabunda do excesso de trânsito que hoje, mesmo na Primavera, se respira em muitas estradas do Concelho. Dai que, mais do que colher a espiga e fazer um ramo bonitinho, o desafio mais relevante seja o de refletirmos até que ponto as nossas ações individuais e coletivas poderão, ou não, influenciar a paisagem que é “transformada” à nossa volta sem que sequer nos tenha sido perguntado se era isso mesmo que queríamos. Se tivermos consciência do que está a acontecer ali, mas também no imenso eucaliptal do centro interior ou se o Alentejo se transformar num território exclusivo da monocultura de Amendoal e de Olival intensivo ou nos novíssimos pomares de abacate e laranja do Algarve, sem que tenhamos tido sequer uma palavra, então o Dia da Espiga será celebrado condignamente! Se calhar muito mais alegria e de forma muito mais consciente!

Com a crescente migração para as grandes cidades e a industrialização, começou a ser cada vez mais complicado cumprir este preceito por si próprio, terminando assim o Feriado Nacional, em 1952. Porém, mais de 30 concelhos, para colmatar esse facto mantiveram-no agora como feriado municipal, como é o caso de Alcanena, Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Alvito, Anadia, Ansião, Arraiolos, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Beja, Benavente, Cartaxo, Castro Verde, Chamusca, Estremoz, Golegã, Loulé, Mafra, Marinha Grande, Mealhada, Melgaço, Monchique, Mortágua, Oliveira do Bairro, Quarteira, Salvaterra de Magos, Santa Comba Dão, Sobral de Monte Agraço, Torres Novas, Vidigueira e Vila Franca de Xira.

Nas áreas urbanas, uma conceção e gestão mais natural é essencial à melhoria da qualidade de vida, pelos inúmeros serviços ecológicos e resposta às alterações climáticas. Várias abordagens são possíveis na conceção e manutenção ecológica de espaços verdes, ou seja, muito mais próxima dos ecossistemas naturais do que a que se pratica no geral. 

Assim sendo, pessoas do campo e regiões consideradas mais saloias ainda vão para as cidades e vilas vender estes ramos a quem lá trabalha ou reside.

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Rui Veiga

Da primária ao secundário, nas escolas da Vila, da Ginástica no CDPA à Natação e ao Polo Aquático na piscina da Escola Náutica, muito aprendi nesta terra onde vivo. Hoje com formação em História de Arte e Desenho, abracei o desafio da Voz de Paço de Arcos, de ajudar a manter um jornalismo cívico, público, de contato próximo e comunitário.

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