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Vazios

os armários estão vazios

eu parti, tu partiste, partimos

elos quebrados

forma e conteúdo desligados

ponto final parágrafo

de hoje em diante desasados

 

os armários estão vazios

do que fomos pouco encerram

malas feitas, vidas desfeitas

ocas do tempo que julgámos eterno

agora a jurar promessas no inferno

 

os armários estão vazios

as paredes nuas, frias

nas prateleiras resta o pó

que connosco conviveu e a mesa partilhou

arrelias, ténues alegrias

guerras, tantas guerras

a toda a hora, todos os dias

 

os armários estão vazios

o silêncio varreu esta casa

sepulcral, integral

resta o odor a bafio

que até o ar foi a enterrar

 

os armários estão vazios

governa o escuro

que a luz recusa-se a entrar

é bom para os fantasmas

dessa efémera paixão

a que aqui jaz desde então

nos armários, nas prateleiras, no chão.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

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Miguel Teixeira

Mais de 30 anos de experiência no mundo da comunicação, especificamente nas funções de criativo, estratega e redactor publicitário. Extenso percurso por algumas das mais marcantes agências de comunicação nacionais e multinacionais enquanto elemento integrante dos seus departamentos criativos e mais recentemente como freelancer. Escritor e autor de várias obras literárias, quer no âmbito da narrativa de ficção quer na poesia. Artista plástico na área da colagem com vasta obra realizada, parte da qual já exposta individualmente ou em colectivas.