Alimentos do Futuro
Entro numa grande superfície para compras de conveniência, pizza, pão, areia para os gatos, frutas etc. Prestes a dirigir-me ao caixa dou por um pequeno e discreto expositor meio perdido entre aquelas grandes ilhas de produtos com desconto instaladas nos corredores. No topo do expositor o título chama a minha atenção: Alimento Do Futuro
Apanho um dos envelopes de design apurado fundo branco e azul com letras também em azul arrumados na primeira prateleira e o título do rótulo me informa tratar-se de “Snack de Inseto Tenebrio Molitor desidratados e com sal marinho, 15g por €4,50 ou seja, a bagatela de €300,00 por kilo. Leio a informação em voz alta. Minha mulher emite um som e faz um cara de nojo. Pondero que o nojo ou a apetência são culturais e que, a bom rigor, um camarão, a despeito da sua cor, não tem lá uma aparência melhor do que a de uma barata ou um Tenébrio Molitor. Que nome! Chegando à casa, vou à Wikipedia e descobri que
A larva-da-farinha, tenebrio, ou tenebrião é a larva de Tenebrio molitor, um besouro do gênero Tenebrio, representante típico da família dos tenebrionídeos, de cor preta ou pardo-escura, que constitui praga bastante vulgar
e também que
A larva-da-farinha contém alta concentração de proteína com baixo teor de gordura e é empregue na alimentação humana, sendo usada tradicionalmente na culinária de países asiáticos.1] Em Janeiro de 2021, a larva de besouro tornou-se o primeiro inseto a ser considerado seguro para consumo humano pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar.[2]
Porque Os Insetos São O Alimento do Futuro?
O homem precisa de proteínas para se alimentar. A maior parte da população mundial consome proteínas de origem animal, de peixes às aves, passando por roedores pequenos e grandes, bois e vacas, galinhas, porcos, coelhos e até mesmo cães e cavalos. Porém, a criação desses animais demanda um grande consumo de recursos naturais: terras, água, equipamentos, energia elétrica etc. além do que, no caso do gado, descobriu-se que há uma enorme produção de gases que provocam o tal efeito estufa que resulta no aquecimento global.
A questão da alimentação de uma população que cresce a cada dia tem provocado debates que vão desde soluções para reduzir o desperdício – ⅓ dos alimentos produzidos vão parar ao lixo – enquanto, em várias partes do planeta as pessoas morrem à fome – até o estudo de fontes alternativas de produção de proteínas. É aqui que entram os insetos.
Abundantes, de fácil produção e alta concentração de proteína – veja no mesmo link das citações acima as orientações para a criação da larva de tenebrio molitor e sua preparação para consumo humano – os insetos parecem ser uma opção viável. Lembro-me que quando era puto o verão em São Paulo era a época das Içás ou tanajuras ou saúva, uma espécie de formiga muito voraz – há mesmo uma fala de alguma autoridade que não me lembro o nome que anunciava: ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil. Pois bem, a saúva não acabou com o país um pouco porque, naquela altura andávamos à sua caça para lhes arrancar o que chamávamos de bunda, na verdade o abdômen, para o preparo de uma farofa que consiste na fritá-los em manteiga ou óleo misturando-se depois à farinha de mandioca. Iguaria ainda hoje servida em várias regiões do país
Há muito que os asiáticos consomem insetos e outros bichos estranhos. Esse hábito não passou despercebido dos estudiosos da nutrição ocidentais que têm buscado formas de introduzir essas fontes de proteínas na nossa alimentação. A esse respeito há ainda muitas questões por responder. A superação do nojo é algo que levará um bom tempo. Evidentemente a €300 o quilo não haverá embalagem bonita que incentive as pessoas a experimentar. Nem mesmo aqueles que como eu já experimentaram a farofa de tanajura