Ainda José Manuel Constantino
Caxias e o Desenvolvimento do Desporto em Portugal
Publicado na edição impressa 56DEZ24 – Autor L. Alves Ribeiro
A o mesmo tempo que se apagava a chama Olímpica, também a chama do Presidente do Comité Olímpico de Portugal se extinguia. O professor José Manuel Constantino partia após mais uma missão cumprida! Foi neste último fôlego da sua presidência que os atletas olímpicos portugueses trouxeram o melhor conjunto de resultados de sempre. Em todos os testemunhos de homenagem a José Manuel Constantino apercebo-me do impacto extraordinário que este professor teve na vida de tantas pessoas: autarcas, políticos, atletas, técnicos desportivos e muitos professores de educação física. Enquanto professora de Educação Física, também eu, fui diretamente influenciada pela força da sua personalidade e pela integridade do seu caráter. Na minha opção em estudar Ciências do Desporto, esteve a lucidez dos seus textos, o ideal das suas convicções e o exemplo dos seus princípios.
Durante a minha infância e adolescência acompanhei o meu pai, António Alves Ribeiro, nas atividades desenvolvidas pelo CCD Caxias (Centro Cultural e Desportivo de Caxias) e acostumei-me a ouvir o nome do professor Constantino como uma referência – pelos conhecimentos que transmitia, mas sobretudo pela amizade que nutria pelo trabalho que este núcleo desportivo estava a desenvolver em Caxias. Após a Revolução do 25 de Abril de 1974 o desporto em Portugal, até então predominantemente elitista, passou a ser entendido como um direito fundamental de todos os cidadãos.
O país foi invadido por um vasto programa de atividades desportivas abrangendo a prática nos escalões etários mais baixos de todas as classes sociais e fomentando o aparecimento de pequenos clubes. Este movimento de âmbito nacional integrou um programa de dinamização das escolas primárias, proporcionando a participação dos professores, dos pais e encarregados de educação, dos animadores, num esforço conjugado à volta do mesmo objetivo: a criança e a promoção do desporto infantil. Em Caxias, viveu-se intensamente estas transformações. A população mobilizou-se formando uma Comissão de Moradores tendo sido o incentivo para um grupo de encarregados de educação criarem uma Comissão de Pais na Escola Primária de Caxias, com o objetivo de melhorar as condições das instalações escolares e proporcionar aos seus filhos uma educação com mais qualidade. Distribuídas funções pelos elementos da comissão, António Alves Ribeiro, assumiu a área da Ocupação dos Tempos Livres.
Organizaram-se múltiplas atividades desportivas como forma de atrair cada vez mais crianças, jovens e adultos. Estava lançado um novo movimento na nossa localidade que, pelas suas características, se integrou num contexto mais amplo denominado de Desporto para Todos. Aos alunos da escola foram-se juntando outras crianças de Caxias e arredores e com elas vieram os familiares, alargando-se a participação a todos os que quiseram aparecer. O Desporto para Todos tornou acessível a toda a população, a prática de atividades desportivas e recreativas sem discriminação de idades, sexo ou condições sociais, e tornou possível a socialização da população e a ocupação dos seus tempos livres.
Nesta intensa atividade, aos fins de semana e feriados, houve uma adesão da população dos mais diversos locais de Caxias, Murganhal, Pedreiras, Vale das Canas e, inclusive da periferia, Cruz Quebrada, Queijas, Linda-a-Pastora, Algés, Paço de Arcos, Porto Salvo e Barcarena. As fundações deste movimento deram origem ao CCD Caxias: sem campo, sem pavilhão, sem sede, sem formalismos, apenas nascido da própria vontade das crianças em participar nos diversos convívios de caráter oficial ou popular. O Movimento Voluntário Desportivo estava, simultaneamente, a acontecer por todo o país. José Manuel Constantino, à época, professor de Educação Física no Ensino Básico no concelho de Oeiras, como professor e dirigente, esteve à frente das iniciativas que visaram a democratização do desporto, tornando-o acessível a todas as camadas sociais.
Estas iniciativas não só proporcionaram oportunidades de prática desportiva, como contribuíram decisivamente para a coesão social da comunidade, oferecendo aos jovens alternativas construtivas e saudáveis. Em Caxias, José Manuel Constantino teve um papel determinante no desenvolvimento desportivo, apoiando diretamente o movimento que António Alves Ribeiro e Amadeu Carvalho, estavam a desenvolver. Incentivou a prática do associativismo, proporcionando aos clubes, às coletividades e a outras entidades que se dedicavam à promoção do desporto, condições e meios para a melhoria da qualidade e incremento dos serviços que prestavam, bem como, o acesso à formação de agentes desportivos para um correto enquadramento técnico. Esta última ação, revelou-se decisiva no aperfeiçoamento da organização e no trabalho cada vez mais competente, junto das crianças e jovens de Caxias.
O professor Constantino tinha plena consciência do papel social dos clubes desportivos – defendia a importância de investir em clubes locais acreditando que estas associações eram fundamentais para a orientação desportiva dos mais jovens, mas também, para a sua educação e formação como cidadãos ativos e responsáveis. A sua intervenção ajudou o CCD Caxias a consolidar o seu papel de pilar desta comunidade, oferecendo a todos, oportunidades de envolvimento positivo e saudável no desporto. O impacto dessas iniciativas foi profundo, contribuindo para o aumento significativo da prática desportiva em Oeiras, após o 25 de abril. José Manuel Constantino é amplamente reconhecido como um dos principais responsáveis pela implementação de políticas desportivas que perduram até hoje, valorizando o desporto como um direito e uma necessidade social.