“Pinturas de Tintin do pintor Xavier Marabout em Tribunal”
Autoria: Francisco Capelo
Edição 60, Agosto de 2025

Isto reacende um debate eterno: onde existe plágio? Onde existe um uso abusivo de imagens dos outros? Há todo o interesse em serem os próprios artistas visuais a assumirem as rédeas desse debate. É urgente e é importante e diz respeito ao nosso futuro. Isto começa na BD e “acaba” na arte.
Quando alguém telefona a outro alguém e esse alguém traz consigo o seu batalhão de advogados pagos a peso de ouro, cada um com um parecer jurídico próprio e belo e diferente e aparentemente bem fundamentado – é nesse preciso momento que começa a desgraça do artista e termina o debate das ideias realmente interessantes e transformadoras. Correr para o telefone para berrar ao seu advogado que faça alguma coisa, que meta um processo no Tribunal àquele “tipo”, é a atitude mais fácil, rápida – e, francamente – profundamente Tola.
Obras de Robert Rauschenberg são hoje vendidas por muitas dezenas de milhões – e ele usava colagens com fotografias de outros autores. Eram colagens nos dois metros dos dois metros da tela ! Obra acabada. Eu gosto mesmo muito da sua obra, não me interpretem mal ! E o mesmo se passava com o graaaande Andy Warhol – reproduções de fotos de outros artistas por todo o lado.

“Riscado da Lista” de Francisco Capelo
Temos de ser sérios quanto a isto, de uma vez por todas. Vivemos na era da imagem. O artista visual trabalha com o quê? – Com imagens ! Dizer que o pintor só pode trabalhar com tintas e pincéis depois da revolução artística do século XX – só pode ser dito por um bruto. O artista visual trabalha com todo o tipo de materiais. Tudo! Se pode ser visto, se existe – pode e deve ser usado.
Picasso trabalhava com a própria urina, sabiam? Depois Warhol usou esta “técnica” num trabalho que representava Basquiat. Duchamp usava objectos. Cesar achatava carros. Miró – telas queimadas. Todos os dias, pintores cheios de ansiedade e algum medo me perguntam se podem usar esta ou aquela imagem, se podem vir a ser processados, que não sabem a lei de direitos de autor, etc. Esta é uma falsa questão – e todos o sabem. Questão falsa como Judas. Tudo isto é uma construção jurídica à volta dos interesses de muitos milhões na arte. Conexão com o trabalho e a inspiração e a vida diárias do artista ? ZERO. – Negócio total.
Peço desculpa mas isto tem tudo a ver com debate do foro criativo. Não metam assuntos destes em Tribunal. Perda de tempo, dinheiro e paciência.
Francisco Capelo
(escreve de acordo com a antiga ortografia)
Site do autor: 4rt.pt

