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Cachias (evolução)

Recuemos até aos séculos XV e XVI. Portugal andava eufórico e assoberbado com todos os infindos trabalhos que nos levariam aos descobrimentos, achamentos e conquistas . . .

 . . . desde 1336 com a descoberta da ”ilha dos cães”. . . em 1415 com a conquista de Ceuta . . . logo se seguiram as descobertas de Porto Santo em 1419 e da Madeira . . . a descoberta de ilhas de Cabo Verde em 1456 . . . exploração da costa Sudoeste africana desde 1482 . . . da passagem do Cabo das Tormentas em 1487 . . . da chegada à Gronelândia em 1495 da chegada a Moçambique em 1497 . . . da chegada à Índia em 1498 . . . da chegada ao Brasil e a Madagáscar em 1500 . . . das conquistas do oriente nos primeiros anos de 1500 . . . com a chegada a Timor em 1512 . . . à China em 1516 . . . à Etiópia em 1520 e à Austrália em 1522 . . . e também na Volta ao Mundo em 1522 . . . e não pararam de esgravatar em cada cantinho do nosso Globo.

Um século passado e os portugueses descobriram todo um Mundo e os seus povos e ficaram com a certeza que este Planeta era realmente um Globo cheio de gentes para conviver. Mas o pequeno Portugal era também pobre e desta maneira tinha grandes esperanças para o seu desenvolvimento pensando nos bons intercâmbios comerciais que poderiam ser estabelecidos.

Cachias e o seu berço

As águas do estuário do Rio Tejo, já bastante largo, chegavam a 20 braças do Mosteiro de Sta. Maria de Belém (de S. Jerónimo) situado no Restelo, uma pequena aldeia de construção naval e de mareantes. Podemos dizer que, tudo o que hoje é plano desde Alcântara até à Cruz Quebrada, são terras que foram conquistadas ao largo estuário do rio Tejo. Finalizou-se essa conquista só muito mais tarde com a construção do Porto de Lisboa (1887) e também da Linha Férrea de Cascais (1889) e da Estrada Marginal (1942).

A partir daqui, da foz do Rio da Cruz Quebrada o extremo de Lisboa, começavam os martírios para os viajantes que logo aconteciam na travessia da mais ou menos alargada e alagada foz desta ribeira, consoante suas enchentes e as marés do rio Tejo. A travessia era feita por muares, por carroças e por coches, estes mais frágeis e por isso nem sempre o podiam fazer. Porém, quando se podia era a pé, mesmo a pé descalço, e também às cavalitas, o que seria normal, como normal, e segundo reza a história.

Passava-se o vale da ribeira e logo surgia a subida para o primeiro morro, de pouca extensão mas suficientemente íngreme para causar dificuldades e para além do qual se desejava “Boa Viagem”, sabendo-se das inúmeras outras que os viajantes iriam encontrar. Logo depois caía-se no Vale do Cano onde se atravessava mais uma linha de água, por vezes abundante e que se tornava em mais uma dificuldade a ultrapassar. Mas os obstáculos não paravam ali e logo tinha-se de subir um novo morro, o da “giba mais alta”, que logo descia duma maneira abrupta, escarpa abaixo caindo sobre o mar e com dificuldades tantas que por isso mesmo lhe chamavam as Escadas de Jacob. A partir deste morro, a estrada contornava a ampla, arenosa e bela enseada de Cachias, com cerca de ¼ de légoa, muito propícia a ancoragens e a desembarque de gentes estranhas, como teria acontecido desde tempos muito remotos até aos tempos da piratagem e das Guerras da Restauração. Porém, logo na descida e no centro do lugarejo, as águas do rio assaltavam, persistentemente, o terreno rochoso que considerava ser inequivocamente seu, assim o demonstrando e nunca desistindo de o conquistar. Prosseguindo no contorno da enseada, encontramos o largo estuário da foz do Rio de Cachias, onde, as suas águas salobras se misturam com as águas salgadas do “mar novo”. (Mar Novo – assim chamavam às águas a partir da Torre de S. Vicente, onde o estuário do Tejo alargava mais e ponto a partir do qual eram já muito sentidas as águas do Oceano).

Esta mistura de águas alagava as terras baixias e arenosas entre as poucas casas existentes no “sitio” e a Estrada Real, que seguia o mesmo traçado de hoje, até ao morro da Terrugem, na base do qual passava pela quinta da Lagoínha (lagoa formada pela abundância das águas que ali ficavam retidas) e prosseguia para o Guincho que fechava a larga enseada de Cachias, seguindo depois para Passo d´Arcos.

Cachias, era na época um insignificante lugarejo mas de muita importância pelo traçado da estrada que contudo a limita. Situa-se no extremo ocidental dum extenso vale, na margem direita, bem de frente para o rio Tejo e na parte mais larga do seu estuário, que a limita pelo Sul. A Poente está limitada pelo largo estuário da sua ribeira. A Nascente e a Norte, está cercada pelo Monte Cachias, com cerca de 40 braças de altitude. Um morro despido, árido, porém com uma bela vista. A sua população é de cerca de 7-8 vizinhos, vivendo num pequeno largo em casas simples e rudimentares e é constituída quase só por pescadores. Usam “chatas” ou outros botes um pouco maiores, alguns já com uma pequena vela e, com “redes de arrasto ou de xávega” e de aparelhos como os “covos, xalavares ou galrichos”, assim equipados faziam-se ao largo. Para eles esta extensa enseada era de ouro pois lhes proporcionava com certa facilidade, encher as suas redes de bom peixe que dava bem para fornecerem as povoações mais próximas

 Por ela passa, forçosamente tem de passar, a Estrada Real, estrada plana, vinda via ribeirinha até à Cruz Quebrada, tendo depois de seguir em frente em troços mal construídos, galgando os morros, descendo aos vales, num carrocel que, mesmo assim só por si não bastava para ser duro, haveria que terminar muitas vezes em dias de inferno com os ataques das marés vivas, revoltosas, pelo que, só Cachias poderia ser a escolhida. Com efeito, embora os contratempos já viessem detrás, era nas Escadas de Jacob e até à passagem dos cachopos de escolhos rochosos, existentes mesmo no centro deste “sítio”, que a tormentosa passagem era deveras muito limitada em tempos invernosos. Havia mesmo dias e dias em que era impossível os viajantes a poderem fazer e outros, em que teriam de esperar algumas horas para o conseguir, tal era o grau de impedimento provocado pelo mar ao invadir todo este troço da estrada. As causas eram devidas, por um lado, ao normal nível alto das marés que ficava a uma escassa braça da estrada e por outro, aos vendavais que batiam as ondas contra os rochedos e contra a fraca muralha e assim espalhavam as águas em cachões . . . sobre Cachias.

A Estrada Real (actualmente, Rua Direita) em reparação após mais um vendaval Os pescadores não queriam mas Cachias ambicionava mais. Olhava com alguma inveja para Laveiras e Barquerena que já tinham conseguido criar vida própria e em desenvolvimento. Por isso tinha muita esperança e queria ver-se livre dos dias infernais e sobretudo ambicionava crescer e mostrar-se ao Mundo.

Estávamos em meados do século XVI . . . D. Sebastião, o muito jovem, de apenas 3 anos de idade, e já Rei de Portugal após a morte de seu avô, D. João III. Assumiu a regência da governação do reino sua avó D. Catarina e mais tarde seu tio-avô o Cardeal D. Henrique. Por sua vez, D. Sebastião assumiu o governo de Portugal aos 14 anos de idade, em 1568.

Depois das últimas conquistas no Oriente, a expansão de Portugal foi interrompida para melhor se poder fortalecer e defender os territórios já conquistados.

No ano de 1578, porém, existindo uma disputa familiar entre Sultões pelo reino de Marrocos e um deles, com o qual D. Sebastião e seu tio D. Filipe II de Espanha mantinham bom relacionamento, pediu-lhes auxílio para essa disputa. D. Filipe no entanto não viu interesse e recusou-se a entrar nessa contenda. Por outro lado e uma vez que o outro Sultão tinha apoio dos Turcos que estavam a querer apoderar-se de todo o Norte africano e, desde modo, o Sultão ficaria seu vassalo, D. Sebastião, o jovem fogoso e imprudente Rei, aceitou e fez-se à Batalha. Batalha de Alcácer-Quibir tendo Portugal sofrido pesada derrota e também a perda do seu Rei. Mas o mal não acabaria aí! Subiu ao trono seu tio o Cardeal D. Henrique que morreu não deixando descendentes.
D. António, Prior do Crato, como primo de D. Sebastião e não tendo este deixado descendentes, após a morte do Cardeal, tornou-se pretendente ao trono e chegou a ser aclamado Rei em 1580.
Também Filipe II de Espanha, como tio de D. Sebastião, se achou com direito à posse da Coroa e assim organizou um poderoso exército sob o comando do consagrado e quase invencível Duque D´Alba para invadir Portugal e apoderar-se do Trono.
Este exército marchou para Lisboa, entrando pela fronteira do Caia e chega a Setúbal onde espera pela sua poderosa Armada.
Daqui segue para Cascaes que logo se rendeu, bem como as fortalezas de S. Gião (Oeiras), de S. Vicente (Belém) e de S. Sebastião (Caparica).
Chega a Lisboa, a Alcântara, em Agosto de 1580, e derrota as fracas forças que D. António conseguira reunir. Esta data marca indelevelmente o início do domínio Espanhol que se prolongou de 1580 a 1640.

A Armada de Espanha em Lisboa após a Batalha de Alcântara – Viso_del_Marqués – Palacio_del_Marqués_de_Santa_Cruz, fresco

Carlos A. R. Frederico de Albuquerque

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