Crónica

Tempos de Oeiras I

Em 1979, Oeiras tinha notórias diferenças para os dias actuais. Menos circulação automóvel permitia um caminhar mais tranquilo, rumo aos pretendidos destinos. Eram tempos escolares que bem conhecia no trajecto feito a pé, desde a Figueirinha e durante uns quinze minutos, então para o estabelecimento de ensino em Santo Amaro, junto à estação de correios. Por recentes anos, esta mudou sua residência para uma zona de numerosa frequência populacional, mais a norte da freguesia, em zona comercial. Mas naquele tempo, por entre vivendas e escola primária, estabelecimento de correios era um só, quando mais para a frente crescido, já se viam duas lojas, uma para atendimento ao público na Rua José Falcão, sendo a outra, única existente há 45 anos, então no mais recente, apenas destinada aos apartados, os grandes clientes e ainda, a diária distribuição de correspondência. Agora, tudo concentrado no centro comercial, pois nada de correios por ali, junto ao escolar ambiente. Naquele tempo, o de 1979, acesso para aulas e boa formação, raramente se fazia com automóveis paternos, o que muito contrasta ao espantado hoje, vendo trânsito quase sem fim em certas horas diárias, sobretudo o cedo matutino e aquele mais cansativo entardecer, o que se assiste como generalizado por escolas outras. Tudo calmo e agradável parecia, nesses momentos de criança, mesmo caminhando oeirense no distante do escolar meio, com motivações turísticas que já existiam nesta terra, muitas vezes com assistência das aves, alegremente expostas em linha de boa precisão, nos fios que sobrevoavam ruas, mostrando-se talvez espantadas, diziam algumas pessoas na sua certeza, enquanto outras eram de opinião que estariam aves, somente controlando e bem, humano ambiente. Este chegou a ser feito, em quantificada maioria, à base de quintas, como no Moinho das Antas, hoje um bairro de prédios, lojas e serviços, mas recuando no tempo, aquela zona ainda era um agradável caminho bem escolhido para efectivar regresso escolar, até Figueirinha, o seguinte bairro, ainda não preenchido na quase totalidade como se vê por hoje. Havia moinhos de vento, assim designados e plenamente visíveis, dois estão por lá bastante discretos e protegidos, mas nada de construção moderna existia no Moinho das Antas, embora isso já se pudesse antever como realidade para dali a tempos futuros, incertos quanto a calendário preciso. Havia uma zona bastante alta, quase um pequeno monte, bem próximo dos moinhos, no qual algumas crianças faziam escorregas de esfuziante diversão, com posteriores visíveis marcas pelas calças, quando não embaraçosos rasgões. Até à linha do comboio, muitos campos preenchiam rural paisagem, onde animais bovinos pastavam, observando-se a casa da quinta, bem perto da rotunda que hoje ouve mais audível, o circular dos comboios, devido à notória proximidade. Alguns dos edifícios mais recentes deste bairro vieram substituir três casas, junto à moderna Rua de Oeiras do Piauí, duas olhando entre si, de frente, enquanto a restante preenchia o topo, quase em forma de chapéu para quem avistasse de ponto elevado, no observador bairro da Figueirinha. Esse distinto conjunto de casas era conhecido como “o quartel”, pois fora poiso militar em tempos idos, enquanto por alturas em que nascia “A Voz de Paço de Arcos”, já residia por aí outro grupo de pessoas, antes regressadas das antigas portuguesas colónias. Uma recheada cerejeira também por aí habitava, quase encostada à casa do meio, de altura vistosa, ao ser superior à própria edificação, somente composta de piso térreo. Em tempos realmente acertados ao nome “quartel”, um pequeno círculo no extenso quintal, albergava uma espécie de pedestal no erguer orgulhoso a duas bandeiras, ou não fosse essa, altura do tal militar uso, o qual acabou por sair, tudo levando, inclusive as valorosas bandeiras. A rua em frente ao “quartel” conhecia pouco trânsito, uma calma que hoje é bem diferente, carros nervosos por excesso de apressada circulação, antecipando-se já a inevitável colocação de semáforos ou formas outras para abrandar tanta pressa e assim, dar uma real protecção aos que caminham a pé, em absoluta necessidade ou saudável gosto. Atravessando rua, eis o bairro da Figueirinha, o qual surgiu perante fim de quintas, numerosas mesmo, avançando então infindáveis prédios em velocidades que aquelas não chegaram a conhecer, tal era o sossego que elas, as extensas quintas, sempre terão demonstrado, no perder de vista que tanto as caracterizava, quando se podia bem contemplar e até admirar, na direcção dos vastos horizontes desse tempo.

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